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Como aplicar a linguagem inclusiva no ensino

Como aplicar a linguagem inclusiva no ensino


Aplicar uma linguagem inclusiva e neutra em termos de género na sala de aula não se trata apenas de mudar palavras ou frases individuais; trata-se de promover um ambiente em que todos/as os/as estudantes se sintam respeitados/as, valorizados/as e incluídos/as. Isto requer estratégias, práticas e recursos intencionais que os/as docentes podem utilizar diariamente. Seguem-se algumas formas concretas de os/as docentes aplicarem estes princípios no seu ensino, planeamento de aulas e gestão da sala de aula.

1. Estabeleça regras fundamentais para uma comunicação respeitadora

O primeiro passo para criar uma sala de aula inclusiva é definir expectativas para uma comunicação respeitadora. No início do ano letivo ou do curso, os/as docentes devem estabelecer diretrizes claras para a utilização de linguagem inclusiva e respeito pelas diversas identidades. Isto pode ser feito através de debates na sala de aula, acordos ou mesmo um código de conduta formal que os/as estudantes ajudam a criar.

O que pode fazer:

  • Criar uma política de linguagem inclusiva: Colabore com os/as estudantes para definir o significado de linguagem inclusiva na sua sala de aula. Inclua pontos sobre como evitar suposições com base no género, raça ou origem e realce a importância de utilizar os nomes e pronomes preferidos.
  • Encorajar os/as estudantes a partilhar os seus pronomes: Crie um espaço onde os/as estudantes se sintam à vontade para partilhar os seus pronomes preferidos, mas certifique-se de que isso é voluntário. Uma atividade simples poderia consistir em apresentarem-se com os seus nomes e pronomes no primeiro dia (por exemplo, “O meu nome é Jaime e uso o pronome ela/ele”).
  • Criar exemplos de linguagem inclusiva: Enquanto docente, dê um exemplo consistente de linguagem inclusiva e neutra em termos de género nas suas instruções, exemplos e conversas. Isto estabelece o padrão para a forma como os/as estudantes devem interagir uns/umas com os/as outros/as.

Exemplo: Ao invés de dizer “Vamos começar, rapazes e raparigas”, diga “Vamos começar, estudantes”.

Ideia de cartaz para a sala de aula: Crie um lembrete visual que enumere dicas de linguagem inclusiva, como a utilização de expressões neutras em termos de género, como “bombeiro/a” em vez de “bombeiro”, e encoraje a utilização de “pessoal” ou “estudantes” em vez de “rapazes”.

2. Crie planos de aula inclusivos

A linguagem inclusiva deve ser integrada no planeamento das aulas e nos materiais que os/as docentes utilizam. Isto vai para além da simples escolha de palavras e requer uma reflexão sobre se os exemplos, histórias e estudos de caso da sala de aula representam diversas perspectivas e identidades. Assegurar que as aulas não reforçam estereótipos e que todos/as os/as estudantes se vêem refletidos no material.

O que pode fazer:

  • Use exemplos neutros em termos de género: Quando der exemplos na aula, evite usar personagens masculinas ou femininas, exceto se for necessário. Em vez disso, utilize nomes e pronomes que reflitam uma vasta gama de identidades. Isto normaliza a utilização de diversas expressões e experiências de género.
  • Verifique se os materiais didáticos têm preconceitos: Reveja os manuais escolares, materiais de leitura e outros recursos para identificar qualquer linguagem preconceituosa ou pressupostos de género. Substitua-os por alternativas mais neutras ou inclusivas.
  • Destaque contribuições diversas: Inclua exemplos de pessoas de diferentes géneros, culturas e origens nas suas aulas. Por exemplo, ao discutir figuras históricas, cientistas ou escritores/as, inclua mulheres, pessoas não binárias e indivíduos de diversas origens raciais e étnicas.
  • Evite reforçar papéis de género: Ao planear trabalhos de grupo ou funções na sala de aula, tenha em atenção a necessidade de evitar os papéis tradicionais de género. Por exemplo, não atribua sempre aos rapazes tarefas técnicas e às raparigas funções organizacionais ou de prestação de cuidados. Distribua as funções e responsabilidades de forma equitativa.

Exemplo: Em vez de utilizar apenas cientistas do sexo masculino numa aula de física, inclua contributos de cientistas do sexo feminino e não binários, como o Dr. Ben Barres (um proeminente neurobiólogo transgénero).

Atividade de sala de aula: Crie um quadro de avisos ou um expositor na sala de aula que mostre as conquistas de pessoas de diferentes géneros, culturas e origens em disciplinas como a ciência, a literatura e as artes.

3. Promova discussões na sala de aula sobre inclusão

Uma das formas mais poderosas de envolver os/as estudantes com a linguagem inclusiva é envolvê- los/as em debates sobre o tema. Estes debates ajudam os/as estudantes a tornarem-se mais conscientes da importância da linguagem e da forma como esta afeta indivíduos e grupos. Cria também um espaço onde os/as estudantes podem refletir sobre a forma como utilizam a linguagem e como podem contribuir para um ambiente mais inclusivo.

O que pode fazer:

  • Crie um espaço seguro para o diálogo: Abra a sala de aula para debates sobre inclusão e identidade, onde os/as estudantes podem expressar os seus pensamentos e fazer perguntas. Enquadre estas conversas de forma a encorajar a empatia e a compreensão em vez do julgamento.
  • Utilize atividades de representação de papéis: Conceba cenários em que os/as estudantes possam praticar a utilização de linguagem inclusiva em situações do mundo real, tais como corrigir alguém respeitosamente quando se trata de atribuir um género errado.
  • Desafie os estereótipos de género em discussões: Ao debater temas de literatura, história ou estudos sociais, incentive os/as estudantes a questionar as normas e estereótipos de género. Utilize estes debates para explorar a forma como a linguagem pode reforçar ou desafiar estas ideias.
  • Aborde as microagressões: Ensine as microagressões aos/às estudantes - pequenos comentários ou ações, muitas vezes não intencionais, que podem ser prejudiciais ou discriminatórias. Ajude os/as estudantes a identificá-las nas interações quotidianas e ofereça estratégias para as resolver com respeito.

Ideia para sala de aula: Organize um debate ou discussão sobre o impacto da linguagem sexista nos meios de comunicação social ou na sociedade. Atribua a grupos a tarefa de pesquisar e apresentar diferentes perspetivas, promovendo o pensamento crítico e a sensibilização para a forma como a linguagem molda as nossas opiniões sobre o género e a identidade.

4. Trabalho de grupo e colaboração inclusiva

O trabalho de grupo é uma parte essencial de muitas salas de aula e é importante garantir que as atividades de colaboração são inclusivas. Isto implica a criação de grupos que reflitam diversas perspetivas e a garantia de que a voz de todos/as é ouvida. Evite agrupar os/as estudantes com base no género ou fazer suposições sobre as suas preferências ou capacidades.

O que pode fazer:

  • Diversifique tarefas de grupo: Evite agrupar os/as estudantes por género ou fazer suposições sobre quem pode trabalhar bem em conjunto com base no género ou na aparência. Em vez disso, misture os grupos para incentivar a colaboração entre estudantes diferentes.
  • Atribua papéis de liderança diversificados: Assegure-se de que os papéis de liderança no trabalho de grupo são rotativos e não dominados por determinados estudantes com base em estereótipos de género (por exemplo, rapazes a liderar, raparigas a tomar notas).
  • Encoraje uma participação equitativa: Durante o trabalho de grupo, encoraje todos/as os/as estudantes a participarem igualmente. Para tal, pode ser necessário facilitar ativamente as conversas para garantir que ninguém está a ser excluído/a ou marginalizado/a.

Dicas: Utilize uma tabela de “funções do grupo” que encoraje a rotação de tarefas e responsabilidades entre todos/as os/as estudantes, assegurando uma participação equitativa e evitando qualquer atribuição de funções com base no género.

5. Dicas para enfrentar resistências à linguagem inclusiva e neutra em termos de género

Introduzir linguagem inclusiva e neutra em termos de género pode suscitar alguma resistência por parte dos/as estudantes, pais/mães ou colegas que não estão familiarizados/as com o conceito ou que mantêm visões sobre os papéis de género mais tradicionais.

Eis algumas estratégias para lidar eficazmente com potenciais preocupações:

Lembre-se: ​​​​​​Numa sala de aula inclusiva, os/as esudantes devem sentir-se livres para expressarem a sua identidade sem receio de serem julgados/as ou excluídos/as. Os/as docentes desempenham um papel crucial neste suporte e acompanhamento, por isso utilize linguagem que valide e afirme as diversas identidades dos/as estudantes!


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